
Uma forte tempestade de granizo atingiu a cidade de Mar del Plata no começo da noite da última sexta feira (21/02), deixando um rastro de destruição, especialmente na zona sul da cidade costeira da província de Buenos Aires. Segundo noticiou a MetSul Meteorologia, o fenômeno durou poucos minutos, mas foi suficiente para causar grandes danos. Carros destruídos, árvores e postes caídos, além de bairros inteiros sem energia elétrica, foram algumas das principais consequências registradas.
Segundo a MetSul Meteorologia, em algumas regiões, as pedras de gelo atingiram mais de quatro centímetros de diâmetro, tamanho comparável ao de bolas de golfe, o que obrigou os municípios a mobilizar todos os recursos disponíveis enquanto as equipes de resgate atuavam rapidamente para socorrer moradores nas mais diversas situações de risco.
Mas o que pode ocasionar uma chuva de granizo dessas proporções? A resposta a esta pergunta está na combinação de fatores meteorológicos específicos, geralmente associados a tempestades intensas. Os principais fatores que contribuem para a formação e severidade do granizo são as correntes ascendentes fortes que mantêm os grãos de gelo suspensos dentro da nuvem por mais tempo; a presença de uma nuvem cumulonimbus desenvolvida altas e carregadas de umidade permitindo que a água congele em altitudes muito frias da atmosfera; temperatura e umidade adequadas, uma vez que, quanto mais quente o ar próximo ao solo, mais energia está disponível para impulsionar correntes ascendentes fortes; presença de um sistema de vento cortante; instabilidade atmosférica intensa, ou seja, quando há um grande contraste de temperatura entre o ar quente próximo ao solo e o ar frio em altitudes mais altas e interação com frentes frias avançando rapidamente, o que pode gerar tempestades violentas com granizo, especialmente quando encontram ar quente e úmido.
Se todos esses fatores ocorrerem simultaneamente, há uma alta probabilidade de uma chuva de granizo severa, com pedras de gelo grandes o suficiente para causar danos significativos.
Os moradores mais antigos do município de Osvaldo Cruz devem se recordar da chuva de granizo de 5 de setembro de 1983, uma tempestade severa com ventos e granizo atingiu o município e destruiu casas e prédios públicos, causando elevados prejuízos, inclusive nas áreas rurais destruindo lavouras e matando animais.
Foi neste contexto, que pela primeira vez foi decretado estado de calamidade pública no município de Osvaldo Cruz, ou seja, situação oficialmente reconhecida pelo governo diante de um desastre natural cujos danos graves à população e às estruturas públicas, comprometeram a capacidade normal de resposta do poder público com os recursos disponíveis, necessitando assim de apoio Estadual e Federal.
Transcrevo aqui trecho do Decreto nº 1.306, de 06 de setembro de 1983, editado pelo então prefeito municipal senhor José Monteiro Nabas: "(...) CONSIDERANDO, o evento desastroso, registrado na noite de ontem, que abateu a cidade, toda área do município, e sua população, uma arrasadora chuva de granizo, em proporções alarmantes, que além de prejuízos materiais, causou efeitos traumatizantes à toda comunidade; CONSIDERANDO, que todos os lares do município, foram invadidos pelas aguas das pesadas chuvas, por terem seus telhados totalmente destruídos, colocando em estado de terrível aflição todas as famílias, pelo risco de vida e perda de seus bens materiais; CONSIDERANDO, que o efeito catastrófico deste imprevisível e flagelador acontecimento, atingiu duramente tanto a zona urbana, como a zona rural do município, polos prejuízos de monta incalculável, no comércio, na indústria e na agricultura, inclusive causando colapso dos serviços públicos essenciais as primeiras necessidades da população; (...) Artigo 1º. – Fica decretado ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA no município de Osvaldo Cruz. (...)".
Como citado no decreto acima, a chuva de granizo arrasou o município de Osvaldo Cruz, destruindo propriedades públicas e privadas, incapacitando os serviços públicos de primeira necessidade e comprometendo a capacidade de recuperação por um grande período haja vista a escassez de mão de obra, materiais de construção, em especial telhas, lonas e todo tipo de insumos necessários a recuperação do município.
Marcas deste terrível desastre natural ainda pode ser vistos na antiga estação ferroviária do município, pois ao olhar para cima pode-se observar o tamanho dos buracos causados nas telhas pelas pedras de gelo, uma vez que, ao recuperar a estação as novas telhas foram instaladas sobrepostas as danificadas, que não foram retiradas. E assim ficou toda cidade!
Aos que acham ser difícil este evento acontecer novamente, ontem (26) na Zona Norte do Município de São Paulo uma forte chuva com rajadas de ventos de até 130 km/h e granizo causou grande destruição naquela localidade, inclusive danificando diversos carros alegóricos que estavam estacionados aguardando para o desfile de carnaval que se inicia na próxima sexta-feira (28).
Com a chegada da quinta onda de calor, o risco de chuva de granizo aumenta devido ao intenso contraste térmico na atmosfera. O calor extremo favorece a formação de nuvens carregadas do tipo cumulonimbus, que podem gerar tempestades severas com ventos fortes, raios e granizo. Esse fenômeno pode causar danos significativos, como destelhamento de casas, destruição de plantações e prejuízos à infraestrutura. Por isso, é fundamental que a população fique atenta aos alertas meteorológicos e siga as orientações das autoridades para minimizar os impactos dessas tempestades.
É preciso considerar que o clima no estado de São Paulo tem se tornado cada vez mais severo, com eventos extremos se tornando mais frequentes e intensos. Ondas de calor recordes, tempestades violentas e períodos prolongados de seca vêm afetando a população, a agricultura e a infraestrutura urbana. As chuvas, quando ocorrem, muitas vezes chegam de forma intensa e concentrada, causando enchentes, deslizamentos e transtornos nas cidades. Especialistas apontam que essas mudanças estão ligadas ao aquecimento global e ao desmatamento, reforçando a necessidade de medidas urgentes para adaptação e mitigação dos impactos climáticos.
Neste contexto, o Grupo de Operações de Emergências de Radioamadores - GOER OSVALDO CRUZ desempenha um papel fundamental na gestão de eventos climáticos severos, atuando na prevenção e monitoramento de desastres naturais por meio de alertas antecipados que podem desencadear respostas por parte dos órgãos públicos como evacuações coordenadas e suporte emergencial às comunidades afetadas. Além disso, suas ações educativas e preventivas promovem a conscientização da população, tornando as cidades mais resilientes diante das mudanças climáticas.
ALESSANDRO A. ROMANO, especialista em Proteção e Defesa Civil, Prevenção e Combate a Incêndios Florestais, MBA Gestão em Segurança Pública, Radioamador PY2OCZ, Membro fundador do GOER, Grupo de Operações de Emergências de Radiocomunicações de Osvaldo Cruz e instrutor da Help Life Treinamentos.