
Com a aproximação do outono e a transição para os meses mais secos do ano, regiões de clima tropical e subtropical começam a sentir os primeiros sinais do período de estiagem. As chuvas tornam-se cada vez mais escassas, a umidade do ar diminui consideravelmente, e a paisagem, antes marcada por tons vibrantes de verde, passa a exibir nuances amareladas e acinzentadas. A beleza natural dá lugar a um cenário mais árido, e junto com ele vem um alerta importante: o aumento significativo do risco de incêndios em áreas rurais e urbanas.
A estiagem é um fenômeno climático recorrente em diversas regiões do Brasil, especialmente entre os meses de abril e setembro. Nesse período, a falta de chuvas prolongada reduz a umidade do solo e da vegetação, o que favorece a propagação de focos de fogo — sejam eles causados por descuidos humanos ou por fatores naturais. Pastagens secas, folhas caídas e restos de vegetação se tornam combustível fácil para as chamas.
Além das perdas ambientais, os incêndios durante a estiagem representam uma séria ameaça à saúde pública e à segurança da população. A fumaça gerada agrava problemas respiratórios, especialmente em crianças e idosos, e a visibilidade reduzida nas estradas aumenta o risco de acidentes.
É notório que durante o período de estiagem, o ar seco e a maior concentração de poluentes e partículas em suspensão contribuem significativamente para o agravamento de doenças respiratórias, como asma, bronquite e rinite alérgica. Crianças, idosos e pessoas com comorbidades são os mais afetados, o que provoca um aumento considerável na procura por atendimentos em hospitais e prontos-socorros. Essa alta demanda sobrecarrega os serviços de saúde, exige maior consumo de medicamentos e insumos, e gera um custo elevado para o município, que precisa ampliar sua estrutura de atendimento e reforçar equipes médicas para dar conta da situação. Além do impacto direto na saúde da população, há também um reflexo econômico que compromete o orçamento público e dificulta o planejamento de outras ações essenciais.
Em áreas rurais, os efeitos da estiagem são particularmente severos. A falta de chuvas e o ressecamento do solo afetam diretamente o crescimento das lavouras, reduzindo a produtividade e, em muitos casos, provocando perdas totais nas plantações. Culturas como milho, feijão, soja e hortaliças são extremamente sensíveis à escassez de água, e sem irrigação adequada, tornam-se inviáveis.
Além disso, a pastagem seca e sem nutrientes compromete a alimentação dos rebanhos, resultando em perda de peso dos animais, queda na produção de leite e carne, e até mortes em casos mais extremos. Para os pequenos produtores, que muitas vezes dependem exclusivamente da agricultura e da pecuária para sobreviver, essas perdas representam um risco real à subsistência e à segurança alimentar de suas famílias.
A estiagem, portanto, não afeta apenas a paisagem, o clima e as pessoas, mas tem consequências diretas na economia local, aumentando a vulnerabilidade social e exigindo ações emergenciais e políticas públicas de apoio ao produtor rural.
É essencial que a população esteja atenta e tome medidas preventivas para não agravar a situação. Queimar lixo ou vegetação seca é proibido e perigoso. No município de Osvaldo Cruz a Lei Municipal nº 3.021, de 05 de dezembro de 2013 proíbe queimar, mesmo que seja nos próprios quintais, lixo, folhas, material orgânico ou inorgânico e quaisquer detritos ou objetos capazes de causar poluição do ar, degradação ambiental de qualquer natureza ou gerando impacto de vizinhança, atribuindo multa de R$100,00 a R$600,00 a quem descumprir a determinação.
Também é fundamental que os municípios reforcem campanhas educativas, monitorem áreas de risco e mantenham equipes preparadas para o combate a incêndios, além de incentivar e disponibilizar canais efetivos de denúncia a disposição de qualquer munícipe que venha a presenciar tais práticas. As autoridades policiais, sejam elas investigativas ou preventivas, principalmente as patrulhas rurais também devem fazer parte deste grande esforço com objetivo de evitar o agravamento das condições que são comuns a esta época do ano.
Enquanto o verde cede lugar ao amarelo, a atenção precisa se redobrar. O respeito ao meio ambiente e o cuidado coletivo são as principais defesas contra os impactos da estiagem e os perigos do fogo. A prevenção é, sem dúvida, o melhor caminho.
ALESSANDRO A. ROMANO, advogado, especialista em Proteção e Defesa Civil, especialista em Prevenção e Combate a Incêndios Florestais, MBA Gestão em Segurança Pública, Graduando em Engenharia de Segurança no Trabalho, Radioamador PY2OCZ, Membro fundador do GOER, Grupo de Operações de Emergências de Radiocomunicações de Osvaldo Cruz e instrutor da Help Life Treinamentos.