
Nos últimos anos, o mundo testemunhou o impacto devastador de epidemias e pandemias, desde o surto de COVID-19 até o aumento avassalador dos casos de dengue em várias regiões. Essas crises de saúde pública destacam a importância crucial das medidas de preparação e prevenção para evitar a disseminação desenfreada de doenças infecciosas. A adoção de estratégias proativas pode salvar vidas, reduzir a pressão sobre os sistemas de saúde e minimizar os impactos socioeconômicos.
Hoje, acordamos com a notícia de que o estado de São Paulo enfrenta uma grave crise de saúde pública devido ao aumento significativo dos casos de dengue. Até o momento que escrevo este artigo, foram confirmados 130.127 casos e 119 óbitos relacionados à doença em 2025, além de outros 84.331 casos em investigação. Os números são do Núcleo de Informações Estratégicas em Saúde – NIES, do Estado de São Paulo. Diversas outras cidades já decretaram estado de emergência de saúde pública em razão do avanço dos casos de dengue, sendo a última que temos notícia o município de Florida Paulista, com pouco mais de 12 mil habitantes, já registra 238 casos confirmados e outros 10 em investigação, considerada a oitava semana epidemiológica.
Diante desse cenário alarmante, o governo estadual decretou ontem (19/02) estado de emergência de saúde pública durante uma reunião no Instituto Butantan, com a presença do Secretário de Estado da Saúde, Eleuses Paiva.
A declaração de estado de emergência permite que as autoridades de saúde direcionem recursos financeiros de forma mais ágil para intensificar as ações de combate à dengue, incluindo a aquisição de insumos, contratação de pessoal e ampliação da capacidade da rede de atendimento. Além disso, o decreto facilita a implementação de medidas preventivas e de controle, como campanhas de conscientização e fiscalização de locais com potencial para proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença.
No entanto, é preciso considerar que o primeiro passo na prevenção de uma epidemia é a vigilância contínua e eficaz, e o GOER – GRUPO DE OPERAÇÕES DE EMERGÊNCIAS DE RADIOCOMUNICAÇÕES vem alertando em suas redes sociais e mensagens via comunicação de rádio desde o início de novembro passado para a necessidade da adoção de medidas de prevenção contra a proliferação do mosquito aedes aegypti, quando iniciamos o período chuvoso e consequentemente temos a multiplicação de locais aptos a formar criadouros acumulando agua parada e limpa.
O Estado de São Paulo possui um programa denominado "São Paulo Sempre Alerta", que substituiu a antiga "Operação Chuvas de Verão", programa este que tem inicio em meados do mês de novembro, então por que, sabendo que as chuvas são o grande fator de proliferação do mosquito aedes aegypti, transmissor da dengue e outras doenças, não se inclui no programa também medidas de prevenção concomitantemente aos cuidados com enchentes, deslizamentos e outros cenários trágicos?
É preciso lembrar que a Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (Cobrade) institui em seu item 5 - Riscos Biológicos, o combate a epidemias, estando assim, no campo de atribuição das Políticas de Proteção e Defesa Civil a atuação no âmbito da preparação, prevenção, mitigação e resposta ao aumento brusco, significativo e transitório da ocorrência de doenças infecciosas, tais como a dengue, zica e chicungunha. Portanto, as Defesas Civis dos municípios têm a atribuição de atuar em conjunto com os demais órgãos de vigilância para evitar que uma epidemia se instale gerando caos e sofrimento a população.
Além das medidas de preparação, o monitoramento de indicadores de saúde pública, como aumento incomum de sintomas específicos em comunidades, surtos localizados e análise de dados epidemiológicos caracterizam um sistema de notificação precoce permitindo que as autoridades identifiquem rapidamente possíveis ameaças à saúde e implementem medidas de controle antes que a situação se agrave.
Ora, se sabemos que as medidas de preparação e prevenção constituem um dos mais importantes pilares para evitar o agravamento de uma situação, e sabemos que o período entre novembro de 2024 a março de 2025 compreende, teoricamente o período chuvoso, e sabemos que a chuva é um dos grandes fatores de proliferação do mosquito aedes aegypti, então por que não pôr em marcha ações mais contundentes desde o início do período chuvoso? Por que todos os anos a mesma situação se repete no Estado? Será que em todo este tempo não aprendemos absolutamente nada? São algumas das perguntas que eu gostaria de tentar responder, uma vez que, instalada a crise tudo se complica, o combate fica mais oneroso e as pessoas sofrem, quiçá perdem suas vidas.
Municípios que fizeram sua lição de casa hoje possuem situações controladas, com índices baixíssimos, a exemplo do município de Osvaldo Cruz que neste momento (20/02), segundo dados do Núcleo de Informações Estratégicas em Saúde – NIES, do Estado de São Paulo, possui apenas 49 casos confirmados, sendo nenhum grave, para uma população de mais de 30 mil habitantes.
No entanto, este ano temos um fator ainda mais preocupante com o ressurgimento do sorotipo 3 da dengue, que não era registrado há 17 anos e agora representa aproximadamente 50% das amostras analisadas. Esse retorno aumenta o risco de novas infecções, uma vez que a imunidade adquirida em exposições anteriores a outros sorotipos não confere proteção contra o tipo 3.
Desta forma seguimos em frente, e para conter a propagação da doença, as autoridades de saúde ainda que tardiamente enfatizam a importância de medidas preventivas por parte da população, como manter caixas d'água devidamente fechadas, eliminar recipientes que possam acumular água parada e permitir o acesso de agentes de saúde às residências para inspeção e orientação. A colaboração da sociedade de fato é essencial para o sucesso das ações de combate à dengue e para a redução do número de casos e óbitos no estado.
ALESSANDRO A. ROMANO, especialista em Proteção e Defesa Civil, Prevenção e Combate a Incêndios Florestais, MBA Gestão em Segurança Pública, Radioamador PY2OCZ, Membro fundador do GOER, Grupo de Operações de Emergências de Radiocomunicações de Osvaldo Cruz e instrutor da Help Life Treinamentos.