
O radioamadorismo é uma atividade muitas vezes subestimada, mas que desempenha um papel crucial na segurança pública e no salvamento de vidas, especialmente em situações de emergência e desastres naturais. Apesar de sua relevância, os radioamadores enfrentam uma falta de reconhecimento e apoio por parte das autoridades públicas, o que compromete sua capacidade de atuar de forma ainda mais eficaz.
Nos momentos mais críticos, como durante terremotos, enchentes, furacões e apagões, as comunicações tradicionais, como redes de celular e internet, frequentemente falham. É nesse contexto que os radioamadores se tornam essenciais. Utilizando equipamentos independentes e redes de comunicação autônomas, eles conseguem estabelecer contato entre áreas isoladas e equipes de resgate, garantindo que informações vitais cheguem rapidamente aos responsáveis pelo atendimento. Isso pode significar a diferença entre vida e morte para muitas pessoas.
História e experiência demonstram a importância desses operadores voluntários. Durante a tragédia do rompimento da barragem de Brumadinho (MG), em 2019, e nas enchentes no Rio Grande do Sul, os radioamadores atuaram ativamente, retransmitindo pedidos de socorro e coordenando ações de resgate quando todos os outros meios de comunicação falharam. Situações semelhantes ocorrem em todo o mundo, provando que o radioamadorismo é uma ferramenta insubstituível em momentos de crise.
Outro exemplo importante onde os radioamadores desempenharam um papel crucial foi no resgate de um veleiro à deriva em alto-mar, demonstrando a importância das comunicações de emergência em situações críticas. Quando a embarcação perdeu contato e ficou impossibilitado de usar meios de comunicação convencionais, operadores de rádio de diferentes partes do mundo captaram o pedido de socorro e rapidamente coordenaram esforços para alertar as autoridades marítimas. Graças à dedicação e à expertise desses voluntários, foi possível estabelecer a localização exata do veleiro e garantir que uma equipe de resgate chegasse a tempo, salvando a tripulação e evitando uma tragédia.
Esse e tantos outros episódios reforçam a relevância dos radioamadores na segurança da população, inclusive marítima, especialmente em áreas remotas onde os sistemas convencionais não chegam ou podem falhar.
O Grupo de Operações de Emergências de Radiocomunicações – GOER Osvaldo Cruz, através de investimentos próprios e a união de parceiros e voluntários acaba de integrar uma rede de comunicação via Echolink com ampla cobertura, interligando as cidades do Estado de São Paulo e diversos outros estados, o que aumenta sua capacidade de receber e enviar informações, principalmente aquelas voltadas aos alertas climáticos uma vez que esta é uma das áreas de atuação do GOER OSVALDO CRUZ com objetivo de antever e alertar as populações locais e de outras regiões sobre eventos climáticos severos que tem o potencial de colocar cidades e pessoas em risco.
No entanto, mesmo com essa importância evidente, o radioamadorismo ainda sofre com a falta de apoio governamental. Muitos radioamadores precisam arcar com altos custos para manter seus equipamentos, licenças e infraestrutura operacional. Além disso, a burocracia e a falta de incentivos tornam difícil a expansão e modernização da atividade. Em alguns casos, a legislação impõe restrições desnecessárias ao uso das frequências, dificultando a atuação desses voluntários.
Para mudar esse cenário, é essencial que o poder público passe a enxergar o radioamadorismo como um serviço estratégico e vital para a sociedade. Medidas como a isenção de taxas para operação, a criação de programas de incentivo e a integração oficial dos radioamadores em planos de defesa civil podem fortalecer essa rede de comunicação alternativa. A valorização e o suporte governamental são fundamentais para garantir que esses voluntários continuem salvando vidas.
O radioamadorismo é mais do que um hobby; é um serviço essencial que, em momentos de crise, faz a diferença entre o caos e a esperança. O reconhecimento e o apoio das autoridades são necessários para garantir que essa atividade continue a desempenhar seu papel fundamental na proteção da sociedade.
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ALESSANDRO A. ROMANO, especialista em Proteção e Defesa Civil, Prevenção e Combate a Incêndios Florestais, MBA Gestão em Segurança Pública, Radioamador PY2OCZ, Membro fundador do GOER, Grupo de Operações de Emergências de Radiocomunicações de Osvaldo Cruz e instrutor da Help Life Treinamentos.